
O Barro me Inspira a Escrever
Barro!!!
...Inspiração... é uma mistura de fatores... Mas, penso que a maior é a busca constante de através de pequenas coisas... Ser feliz... E... O barro... é um grande veículo. Você coloca a mão na argila e ela lhe conta o que fazer... Está tudo lá dentro... Não basta olhar... É necessário trabalhar... E trabalhar muito... estabelecer uma cumplicidade entre você e ele... Um diálogo muito rico... dentro do prazo estabelecido por sua excelência... Modelamos a ideia... E se você me perguntar... Como surge essa ideia? Tudo que faço... já existe... então imprimo a minha marca ficando atenta aos detalhes... Algumas vezes faço utilitários... outras... os transformo em inutilitarios... Tiro a funcionalidade e lhes dou a fruição. Mas... se quer saber mesmo de que lugar surge a inspiração...!? ...Estude muito... domine a técnica para não ser limitado pela falta dela e o mais importante... trabalhe com entusiasmo... e orgulho... sim... orgulho de fazer a melhor peça que você é capaz... E ao assinar... sorria... e desfrute do gostinho bom da realização!!!
O que me leva a trabalhar com o barro... Isso é um caso de amor... Uma paixonite aguda... e vou lhe contar um segredo... o barro vicia... você pode acreditar. Essa matéria prima tão frágil... mas que ao ser queimada é transformada em cerâmica... atravessa os séculos e nos conta a história da humanidade, exerce um fascínio que me faz esquecer das horas pensando e realizando a concretização da ideia. É reflexão... É ponderação... É introversão... Resumindo... É a comunhão da matéria com mãos e alma!
Ele... o barro... é um grande professor... e a queima nosso grande desafio... entregamos a peça ao forno... Vigiamos a queima... finda esta... esperamos o grande dragão esfriar e ai sim... vamos sorrir ou chorar... mas... com uma grande certeza... nunca desistir!!!
Por algumas peças tenho um carinho especial... São frutos de momentos... de resultados... enfim... são aquelas em que por motivos diversos mão, coração e mente... conseguiram realizar a mimese da ideia.
Texto de Solange Bomfim Mano
Trabalhando o Barro!!!
O trabalho com o barro requer paciência, humildade, determinação e não ter medo de ser feliz. Vai além da criação, trata-se da transformação. É preciso amassa-lo para torna-lo mais homogêneo e evitar as bolhas de ar. Enrola-lo em cobrinhas, corta-lo e molda-lo até chegar no ponto de osso – estado em que a argila está completamente seca para ser entregue ao forno – o grande dragão – para a primeira queima. Isso pode demorar meio dia, um dia ou vários dias. Depois, é preciso esperar o forno esfriar no mesmo processo: meio dia, um dia ou vários dias. O resultado está fora de alcance, pois ainda não inventaram um forno transparente, só se sabe que é irreversível: o barro vira cerâmica.
A peça que sai da primeira fornada recebe o nome de biscoito e avança para a etapa do esmalte e segue para a segunda queima. A cada fornada as emoções e expectativas se repetem. Aí reside a magia da transformação.
Tudo começou com uma curiosidade em desvendar o artesanato mineiro, Solange Mano e uma amiga embarcaram numa road trip para Minas Gerais. Numa parada em São João Del Rey encontraram um ceramista de nome José. Lá ela começou a desenhar peças para ele fazer em Terracota – aquele barro vermelho, sem esmalte. A admiração pelo trabalho de José crescia a cada visita para pegar encomendas. Ali o bichinho do barro já havia mordido Solange. Numa ida a uma exposição de cerâmica apaixonou-se de vez.
Em meio a uma vida atribulada de executiva, ela encontrou um tempo a noite para aulas de cerâmica para relaxar. Como professora escolheu a super Sylvia Goyanna (A Sylvia formou-se como ceramista em Londres e foi a responsável por capacitar os cariocas na arte da cerâmica desde os anos 1980). A cerâmica ocupou um espaço cada vez maior em sua vida. De aluna, virou assistente de Sylvia e se lançou em vários projetos pelo mundo: Londres, Japão, França, Espanha. Em 1994, ela abriu seu atelier e em 2005 mudou-se para Petrópolis.
Em seu acervo, peças de galeria (inclusive tem uma em exposição no Museu de Arte Contemporânea de Euskadi – uma comunidade autônoma espanhola) e peças utilitárias. Há também peças de parede e de jardim. Todas com um design exclusivo. Solange também dá aulas. Um alerta: “o bichinho do barro vicia.”
Texto de Solange Bomfim Mano
Criação
Platão considerava a cerâmica a primeira das artes reconhecidas. Além de criação é sobretudo transformação.
Na cerâmica, temos a reflexão, a comunhão e a festa. É uma busca constante. O gesto do ceramista é único e ágil. As marcas deixadas pelo forno se tornarão indeléveis, suas composições podem ser despojadas e de delicado colorido, assim com fortes e agressivas.
No universo cerâmico, várias tendências se harmonizam: figurativas, geométricas, abstratas, construtivas, miméticas, etc.
A procura da individualização forma o universo que, na busca da modernidade, rompe com parâmetros externos e internos até alcançar a liberdade de expor sua visão a partir de sua própria consciência. É a busca de um trabalho com existência objetiva própria. A busca da harmonia.
O ceramista desenvolve um esforço consciente de respeitar os limites de seu material - o barro - ultrapassando os limites da técnica. Submete-se aos ditames do forno que amplia ou reduz sua possibilidade de criação. Trabalha com argila úmida no tempo limitado por ela. Enfim, se não for o que deseja,ele amassa novamente o barro e recomeça...
Através da cerâmica, os povos representaram o seu mundo. Através dessas representações, temos uma grande parte da história da humanidade. O ser humano descobriu ser capaz de criar...